A Ana Rüsche em toda sua sabedoria Punk Pônei propôs um exercício para os amigos escritores.
O exercício segue abaixo, depois desses dois pontos.
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Sem pressa, como quem sabe exatamente aonde vai. Sem pressa, como o peregrino, que acompanhado de fé, sabe que o caminho é tão ou mais importante do que chegar. Ou que sabe que chegar não é o fim. Gostaria de me livrar da urgência de dizer algo rapidamente para que alguém entenda, para que alguém ouça, enxergue ou toque algo que eu pude por um momento vislumbrar, intuir ou adivinhar.
Que fosse novo, que brotasse internamente ao invés de ser uma reação a todas as sementes de agressão que são atiradas na minha cara todos os dias. Eu sei que as sementes só brotam em solo fértil para o seu temperamento, não há pinheiro no pântano, não há rosas no deserto. As minhas sementes se aquecem no lodaçal. E brotam rápidas, daninhas, sem muito cuidado. É como a grama feia que desafia paralelepípedos e vez por outra tem a ousadia de se exibir como uma minúscula flor amarela, diariamente atropelada por carros até que se torne ela própria chão.
Que fosse religioso, ritual. Que tivesse a calma de um sussuro. Não um grito. Não um chilique. Não uma histeria. Não um sinal de alerta que disesse “Vocês não podem ver? Como vocês não estão vendo que estamos caindo, caindo, caindo nesse abismo e que o chão é próximo? Olhem para mim, leiam meus lábios que dizem: não há retorno!” Que fosse fria como são frios os russos em sua atenta observação permitindo que o fluxo aconteça sem interferência.
Um dia me contaram que na maior e mais veloz montanha russa do mundo, os trilhos se partiram. Morreram todos na queda, mas ainda sorrindo, com o corpo apaziguado por no íntimo acreditarem que não era o fim, era o parque, o pagamento-bilhete que assegurava que a vida vai assim, continuando, a ilusão da vertigem com controle. Ser trilho, carrinho, queda, espectador e vítima: um dia.