Certamente é Nova Iorque. O dólar está nas alturas. Mas não só por isso.
Acabei de passar por uma experiência de viagem gratificante e extremamente exaustiva com os Escritores na Estrada. As duas viagens coincidiram sem muito planejamento o que fez minha vida ficar de cabeça para baixo: ao mesmo tempo estou mudando de casa, saindo de uma viagem e entrando em outra. Tem caixas espalhadas pelo apartamento que vou abandonar, minha filha quer comidas que não vou comprar pois vão estragar então é isso: pão, arroz, feijão, legumes, um ovinho, tapioca. Nada de pipocas e quetais. Estou expert em administração de papel higiênico e fraldas, no manejo de recursos escassos como calcinhas e sutiãs e principalmente na concentração de não espanar no processo.
Inda bem que tenho padrasto, mãe e irmã maravilhosos que estão me ajudando na função.
Mas me perco aqui: Nova Iorque não é o lugar ideal para quem gosta de silêncio, e precisa efetivamente descansar. Prevejo maratonas intermináveis de coisas imperdíveis para ver, comer, sentir, ouvir. E eu só penso em dormir, olho a foto da cama onde eu estarei instalada em poucas horas pelo AirBnb e penso: uau, vou dormir muito. Quem trabalha pra caramba e tem filho pequeno sabe o que dormir significa: o luxo supremo, algo como comer esturjões tomando uma taça de Krüg enquanto está espichado tomando sol num iate ancorado em uma praia intocada da Sardenha. Mas dormir é melhor. Não que eu tenha experimentado o Krüg, a Sardenha, ou o Iate, mas dormir, ah!
Mas não vou me culpar: tenho amigas para ver, e a passagem foi comprada num impulso de estado emocional alterado parcelada em muitas e muitas e muitas vezes, tantas que poderão espiar o ano vindouro e os fogos espoucando em Copacabana. Ou seja, eu não terei dinheiro para sequer uma mariola até 2016.
O outro ponto é que eu precisarei escrever enquanto estiver viajando, o que não chega a ser nenhuma novidade. Escrevi meu primeiro longa durante umas férias em Buenos Aires, entreguei uns tratamentos de uma série enquanto deveria estar balouçando em redes no Ceará, e por diversas vezes escolhi cuidadosamente ônibus com wi-fi para cumprir prazos enquanto fazia o trajeto Rio-SP / SP-Rio. Fato é que eu gostaria imenso de um dia poder fazer uma viagem dessas que as pessoas desligam tudo. Um dia quem sabe. Mas como não estarei nessa vibe mesmo, vamos aproveitar o que a cidade tem para me oferecer:
comecei as pesquisas e primeiros esboços de “Fantasia de Violência”, meu novo livro. Nada melhor que Nova Iorque para lembrar maravilhosos filmes norte americanos onde prédios se desfazem sob o poder de um raio laser extraterrestre, psicopatas serram pessoas, carros explodem, tiroteios aterrorizam a broadway, anti heróis cotovelam a boca de cidadãos comuns fazendo voar dentes, e a mais doce mocinha pode usar uma tampa de bueiro para espiaçar a cara de um malfeitor que por desventura atravesse seu caminho. Estarei hospedada relativamente perto da biblioteca pública de Williansburg que tem uma oficina livre de dramaturgia no verão, e espero que tudo isso ajude a fazer a mágica acontecer, já que não poderei dormir sem me sentir uma otária fenomenal etc etc.
Dito isso e sabendo que meu celular não aguenta duas horas sem desligar por conta da bateria
– Tarsila teve uma piada ótima na viagem dos escritores: – nossa, a bateria do meu iphone não guenta nem 10 minutos com esse aplicativo ligado. – Sabe o que não acaba com a bateria do iphone? – Não, o que? – O modo avião –
é provável que eu escreva mais por aqui (ao fim do dia) do que nas formas mais rápidas de comunicação, como FB, Twitter, Instagram. Por tanto, quem quiser ler o que se passa, estamos por aqui. Inté.